quinta-feira, 9 de setembro de 2010

A Fortaleza de Mértola: Desde as origens que teve importantes condições de defesa, implantando-se num alto rochosos na confluência da Ribeira de Oeiras com o rio Guadiana. Os inícios da fortificação encontram-se na época islâmica, período em que a cidade foi um importante porto fluvial entre Mérida e o Atlântico

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O Castelo de Mértola localiza-se no Distrito de Beja e numa posição dominante sobre a povoação, na confluência da ribeira de Oeiras com a margem esquerda do rio Guadiana. Controlava a passagem deste último. Actualmente integra a Região de Turismo Planície Dourada.
Ocupada desde tempos pré-históricos, esta região constitui-se em importante entreposto comercial freqüentado por Fenícios e Cartagineses, graças à existência de vias fluvial e terrestre ligando-a ao Sul da península. A primeira referência histórica a esta povoação encontra-se na Crónica dos Suevos, do bispo Idácio, narrando um episódio datado de 440, de cuja leitura se pode inferir a existência de uma fortificação no local, então denominada Myrtilis Julia.
Com a queda do Califado de Córdoba, 1031, Mértola tornou-se um reino independente, rapidamente retomado por Al-Mutamid, rei de Sevilha. Um século mais tarde, entre 1144 e 1150, tornou-se novamente independente, sendo provável terem sido erguidas nova obras defensivas durante o governo de Ibn Qasi, 1144-1147. É certo que, em 1171, a fortificação foi ampliada com uma torre e, em 1184, com o torreão integrante do portão de entrada.

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Na época da Reconquista cristão da Península Ibérica, as forças de D. Sancho II investem para o Sul, acompanhando ambas as margens do rio Guadiana, vindo a conquistar Mértola, na margem direita e Ayamonte na esquerda. A primeira foi doada à Ordem de Santiago, na pessoa de seu Grão-Mestre, D. Paio Peres Correia (1239). A Ordem, que já tinha sob sua responsabilidade a defesa de outras praças ao sul do país, Alcácer do Sal, Aljustrel, e outras, fez de Mértola a sua sede em Portugal, posteriormente transferida para o Castelo de Palmela. Em 1254 a povoação recebeu Carta de Foral, alçada à condição de vila. Data deste período a construção da torre de Menagem, cujas obras foram concluídas em 1292 sob a direção do mestre João Fernandes.

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Esta torre, bem como a alcáçova, foram a residência do alcaide-mor até ao século XVI, época em que a estrutura foi progressivamente abandonada.
Sob o reinado de D. Dinis, reedificou-se a primitiva defesa, iniciando-se a muralha da vila, obras continuadas pelos seus sucessores, D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando.
Sob o reinado de D. Manuel I, a povoação e seu castelo encontram-se figurados por Duarte de Armas, Livro das Fortalezas, c. 1509. A vila recebeu o Foral Novo do soberano em 1512, quando a sua defesa foi objecto de novos melhoramentos.


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Entre o século XIX e o século XX, a economia de Mértola dependia da exploração das minas de São Domingos, um grande centro de extracção de pirita cúprica. Em meados do século XX, as ruínas do antigo castelo foram classificadas como Monumento Nacional. Em razão da implantação de um projecto de revitalização, Mértola é considerada uma vila-museu com diferentes áreas de intervenção e investigação, organizadas em três núcleos, em exposição na Torre de Menagem do castelo:
  • o Núcleo Romano;
  • o Núcleo Visigótico, que inclui uma basílica cristã;
  • o Núcleo Islâmico, onde se pode ver uma das melhores coleções portuguesas de arte islâmica (cerâmica, numismática e joalharia).
Do recinto castrense, para além da já mencionada altiva torre de menagem trecentista, subsistem uma outra torre menor e alguns cubelos defensivos que reforçam os arruinados panos de muralha e que se estendem até à vila, para além de outras edificações defensivas, algumas das quais revelando estruturas e materiais romanos e árabes. No centro da praça de armas encontra-se a cisterna, coberta por uma abóbada de berço.


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 A opinião do IGESPAR.
«Desde as origens que Mértola teve importantes condições de defesa, implantando-se num alto rochosos na confluência da Ribeira de Oeiras com o rio Guadiana. Os inícios da fortificação encontram-se na época islâmica, período em que a cidade foi um importante porto fluvial entre Mérida e o Atlântico. Não obstante equacionar-se uma primitiva muralha tardo-romana (TORRES e outros, 1991, p.13), só no século IX encontramos as primeiras notícias documentais acerca da relevância militar da cidade, numa conjuntura de revolta de alguns senhores locais contra Córdova.
É de presumir que a grande campanha construtiva militar tenha acontecido durante o Califado omíada (930-1031), época de maior centralização estatal e de notáveis avanços no domínio da guerra por parte do Islão peninsular. Nas décadas de 30 e 40 do século XI, Mértola foi uma efémera capital taifa, conquistada pelo vizinho reino de Sevilha, em 1044. Um século depois, durante nova fragmentação do bloco islâmico peninsular, a cidade proclamou-se uma vez mais independente. Nesta altura, é de admitir que tenham existido melhoramentos no sistema militar, pois a "excelência das suas fortificações" não passou despercebida ao geógrafo Edrisi (IDEM, p.15).

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Mas foi no final do século XII, no contexto da reacção almóada face ao avanço cristão, que se conhecem referências mais concretas ao castelo, com a construção de uma torre, muito provavelmente, da cisterna e, ainda, a feição geral da entrada no recinto (com arco ultrapassado que daria acesso a um corredor em cotovelo), bem como de parte do torreão cilíndrico que se lhe adossa (IDEM, p.16).
No entanto, terá sido uma "população (...) francamente empobrecida", sem meios de defesa adequados, que os cavaleiros de Santiago encontraram em 1238, altura em que conquistaram Mértola (BOIÇA e BARROS, 2001, p.579, contra opinião de TORRES e outros, 1991, p.17). A importância militar do local, com natural ligação ao Algarve, fez com que os Espatários escolhessem a cidade como sede da Ordem em Portugal, estatuto que manteve até 1316. Durante este período, dois factos importantes aconteceram: em 1254, D. Paio Peres Correia passou foral; de 1292 é uma inscrição que dá conta da construção da torre de menagem, por patrocínio de D. João Fernandes, mestre santiaguista.
O ano de 1292 tem servido para datar genericamente a obra gótica do castelo e deve inserir-se no "processo de autonomização do ramo português da Ordem de Santiago, alcançada e ratificada nos anos de 1288 e 1290" (IDEM, 2001, p.579). Apesar das múltiplas transformações por que passou, é ainda possível reconstituir a sua estrutura básica, reveladora de uma racionalização arquitectónica e espacial característica dos anos do Gótico.
A fortaleza é de planta quadrangular, ligeiramente trapezoidal, com ângulos defendidos por torres. A principal é a Torre de Menagem, que se eleva a quase 30 metros de altura. A sua implantação na face mais desnivelada do conjunto, obrigou a que o primeiro piso fosse "um robusto e elevado embasamento" (IDEM, p.580), sobre o qual se elevam dois andares: o primeiro, com acesso a partir do adarve, pela porta gótica sobrepujada pela inscrição de 1292, tem tecto de cruzaria de ogivas de oito tramos, possuía lareira e era iluminado por três frestas; o andar superior, muito transformado, deveria ter servido de residência, mas não restam vestígios dessa função. No extremo ocidental, situava-se a Torre da Carocha que, como o nome indica, terá desempenhado funções de prisão (IDEM, p.583). A entrada, voltada à vila, era feita por um corredor em cotovelo, com duas portas, e era defendida por torreões circulares.
Sem grandes alterações nos séculos seguintes (à excepção da casa do alcaide, edificada nos finais do século XV e que ocupou toda a muralha Norte), o castelo perdeu a sua função estratégica no século XVIII e entrou em decadência, travada apenas pelo restauro de 1948-50 e pelas mais recentes iniciativas de reconversão museológica». In IGESPAR, PAF

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