sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Francisco Bugalho: «O Pintor da Natureza». Poesia. Parte V

Cortesia de docecomoachuva

Casa no Campo
Casa no campo, batida
De tanto Inverno chuvoso,
De tanto Verão impiedoso,
De tanto passar de vida--.

Casa no campo, onde a vida
É mais dura e dura mais;
Onde viveram meus pais.
- Casa de amor construída!

Aqui, o tempo que passa
É sempre mais evidente:
Fulja o sol de Verão, ardente,
Bata a chuva na vidraça.

Nosso viver é marcado
Plo curso das Estações.
Sementeiras: - ilusões...
Colheitas: - desenganado...

Nela se tem mais presente
O caminhar para o Fim...
Tudo nasce, cresce e, assim,
Acaba naturalmente.

E a vida tem mais valor
Quando se sente fugir.
- Que a flor que abriu, a sorrir,
Hoje a secou o calor.

Que o bicho, que ontem saltava,
Airoso, grácil e ágí1,
A lembrar como ela é frágil,
Morreu, enquanto pastava.

Casa no campo, batida
De tanto Inverno chuvoso,
De tanto Verão impiedoso,
Do passar de tanta vida.
Francisco Bugalho, in Poesia

Paisagem
Planície ainda dispersa
Em névoa de oiro morrendo,
Pálida, a luz cintila breve, ao longe,
E vai desfalecendo...

Cantiga branda que se perde e evola,
Modula, sobe, desce e desencanta,
Leve poeira que na estrada branca
Se desenrola,
Cresce
E, silenciosamente, se levanta.

Neblina ténue
Tenuemente desce,
Suave,
E em passos lentos, misteriosa, avança.

Últimos trilos de ave...
A noite cresce
E a mansa terra, pálida, descansa.
Francisco Bugalho, in Poesia

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