sábado, 29 de outubro de 2011

José de Encarnação. Das Guerras Peninsulares e das Epígrafes Romanas: «…contudo, estada em Madrid deu início ao seu interesse pelos temas relacionados com a documentação do arquivo da Academia da História de Espanha. O seu último grande estudo seria o Estado de Portugal»

Cortesia de lahistoriademira

José Andrés Cornide de Folgueira e as Inscrições de Ammaia (Conventus Pacensis)
«Dentre os investigadores da Antiguidade hispânicos poucas personalidades conheceram tão bem Portugal como José Andrés de Folgueira Saavedra (La Coruña, 25 de Abril de 1734 - Madrid, 22 de Fevereiro de 1803). Reconhecido, no seu tempo e na bibliografia posterior, como um dos grandes pesquisadores, os seus milhares de documentos pessoais foram legados, quando morreu, à Real Academia da História em Madrid, onde têm permanecido durante todo este tempo e estão a dar agora os resultados científicos que Cornide deles não pôde obter devido à sua morte prematura.

Em 1789, deixou Cornide a sua herdade de Mondego, próximo da sua Coruña natal, e transferiu-se para Madrid, onde, em 1791, foi admitido na Real Academia da História como supranumerário e, pouco depois, em 1792, como Académico de Número. Foi Secretário da Academia desde 19 de Fevereiro de 1802 a 22 de Fevereiro de 1803, exercendo simultaneamenre esta função com a de Bibliotecário, cargo que desempenhou desde 4 de Junho de 1802 até à morte. Do interesse pelas antiguidades da sua terra galega legou-nos, entre outros, os estudos sobre a Torre de Hércules e a “Dissertação históríca sobre cuál hubiera sido el antigo asiento de la Ciudad Límica o Lémica, señalada por patria al Hidacio ín el prologo de su cronicón”.
Foi um homem interessado pela literatura, pela história, pela geografia, pela zoologia, etc., e não apenas da .sua Galiza natal, a que dedicou grande parte dos seus estudos, especialmente antes da sua chegada a Madrid. Manteve larga correspondência, em grande parte perdida, salvo excepções, com muitíssimas figuras da sua geração e teve acesso às mais altas instâncias do Estado, que lhe confiaram missões delicadas, inclusive de política externa.

Adquiriu uma boa parte dos seus estudos na rica documentação da Real Academia da História, cujo arquivo conhecia com mais pormenor do que os seus contemporâneos e de que abundantemente se serviu.
Manejou os fundos manuscritos de muitos autores que o haviam precedido, mas especialmente os do Marquês de Valdeflores. Os seus livros da época anterior à chegada a Madrid tratam todos sobre a história natural e sobre a antiguidade da Galiza; contudo, estada em Madrid deu início ao seu interesse pelos temas relacionados com a documentação do arquivo da Academia da História de Espanha. O seu último grande estudo seria o Estado de Portugal.

Cortesia de viumhomemwordpress

Tamanha actividade intelectual de Cornide traduziu-se numa infinita acumulação de notas, que aparecem intercaladas por dezenas de maços da Academia, onde nem sempre é possível seguir um fio que permita a sua classificação. Hübner, ao referir-se à sua obra no CIL II, diz:
  • “Est farrago rudis omnino et indigesta, nam Cornide nec docto nec dìligenter rem.egit (tam diu interdum ne academiae quidem ubi esset scribebat, ut amici dubitarent utrum viveret necne”.
A maior dificuldade em ordenar essa documentação reside em datar cada nota e relacioná-la com o resto da série, habitualmente situada num legado distinto, pois nem sequer os maços que compõem a colecção Cornide apenas contêm obra própria. A ausência de datas e de assinaturas é a tónica geral, pelo que só a letra característica deste personagem permite rastrear a sua autoria em muitas das centenas de papéis sobre < Antiguidade que a Real Academia da História conserva.
O grande empreendimento da sua vida foi a viagem a Portugal, encarregado pela Academia e encorajado pelo próprio Manuel Godoy, que via nele a possibilidade de conhecer, em primeira mão, o sistema defensivo do país vizinho, na perspectiva de um eventual conflito.

jdact

Cornide realizou essa viagem entre 20 de Outubro de 1798 e 10 de Março de 1801, ainda que a sua morte prematura, em 1803, tenha deixado por concluir todos os estudos que tinha entre mãos como consequência da sua larga permanência portuguesa; no primeiro volume da obra “Estado de Portugal en el año de 1800” há uma «Nota preliminar», de António Sánchez Moguel, onde se narram o, pormenores da organização, o desenrolar e a publicação da viagem; sabemos por aí que Cornide apresentou à Junta de 22 de Outubro de 1802 «vários cadernos de apontamentos e diversos materiais» trazidos de Portugal, que pretendia passar a limpo; mas faleceu quatro meses depois, pelo que não o pôde fazer e só deixou terminado o “Estado de Portugal”.
Um ano antes, em 1797, Cornide redigira umas:
  • “Observaciones sobre el modo de hacer la guerra contra el reino de Portugal; sigue la noticia de las plazas fronteirizas del mismo reino y del território intermédio e uma Noticia de las Plazas fronterizas del reino de Portugal e terreno intermédio”, com o que não se deve estranhar que, entre os seus papéis, se encontre .uma “Carta dirigida al Excmo. Sr. Duque de Frias sobre la forma e modo de invadir Portugal”.
O próprio Cornide alude antes da sua morte, ao dizer que «esta Carta foi escrita nos começos do ano de 1800 e antes de ter feito as minhas viagens à parte oriental do Alentejo e à Beira, de modo que resulta daí e das notícias que obteve no país, que tenha pensado que seria mais conveniente empreender a entrada no Reino de Portugal pelas imediações da Praça de Almeida, a qual, no caso de não se querer cercá-la, se poderia deixar bloqueada com algum corpo de tropas e continuar a marcha para ocupar a cidade da Guarda…». In Juan Manuel Abascal, Universidad de Alicante, Rosario Cebrián, Parque Arqueológico de Segóbriga, José d’Encarnação, Universidade de Coimbra, Marvão e Ammaia ao tempo das Guerras Peninsulares, IBN MARUAN, 2009, Edições Colibri, Câmara Municipal de Marvão, ISBN 978-972-772-876-3.
Cortesia de E. Colibri/CM de Marvão/JDACT