sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Linhagem do Santo Graal. Laurence Gardner. «… porém, ‘nunca tinham ouvido falar de Charles Darwin!’ Na Inglaterra, um novo estrato intermediário na sociedade emergira dos empregadores da Revolução Industrial. Essa próspera classe média deixou a verdadeira aristocracia e a classe governamental muito longe do povo»

Cortesia de wikipedia

Ídolos Pagãos do Cristianismo
«(…) É fácil vermos hoje que a História Universal de 1779 estava errada. Sabemos que o mundo não foi criado em 4004 a.C.. Sabemos também que Adão não foi o primeiro homem na Terra? Essas noções arcaicas já estão ultrapassadas; mas para as pessoas no fim do século XVIII, essa impressionante história era o produto de homens mais esclarecidos do que a maioria e, portanto, presumivelmente correcta. Vale a pena, portanto, fazermos a nós mesmos a seguinte pergunta, neste estágio: quantos factos aceitos pela ciência e pela história actualmente também serão considerados ultrapassados à luz de futuras descobertas?
Dogma não é necessariamente verdade; é apenas uma interpretação fervorosamente divulgada da verdade, com base nos factos disponíveis. Quando novos factos influentes são apresentados, o dogma científico muda naturalmente, mas isso é raro de acontecer com o dogma religioso. Neste livro, estamos particularmente interessados nas atitudes e ensinamentos de uma Igreja Cristã que não presta atenção a descobertas e revelações, e que ainda mantém boa parte do dogma incongruente que remonta a tempos medievais. Como observou astutamente H. G. Wells no início da década de 1900, a vida religiosa das nações ocidentais subsiste numa casa da história construída sobre areia.
A teoria da evolução de Charles Darwin em The Descent of Man, em 1871 não causou nenhum dano pessoal a Adão, mas a ideia de que ele seria o primeiro ser humano caiu por terra. Como todas as formas de vida orgânica no planeta, os humanos evoluíram por mutação genética e selecção natural, no decorrer de centenas de milhares de anos. O anúncio de tal facto encheu de horror a sociedade, orientada pela religião. Alguns simplesmente se recusavam a aceitar a nova doutrina, mas muitos caíram no desespero. Se Adão e Eva não eram os pais primordiais, não havia Pecado Original e, portanto, o próprio motivo do perdão não tinha fundamento!
A maioria entendera de maneira completamente errada o conceito de Seleção Natural. As pessoas deduziam que, se a sobrevivência era restrita aos mais fortes, então o sucesso devia depender de superar o próximo! Estava nascendo uma nova geração, cética e cruel. O nacionalismo egotista florescia como nunca antes na história, e as divindades domésticas eram veneradas como, no passado, adoravam-se os deuses pagãos. Símbolos de identidade nacional (como Britannia e Hibernia) se tomaram novos ídolos do cristianismo. Dessa base insalubre se gerou uma doença imperialista, e os países mais fortes e avançados reivindicaram o direito de explorar as nações menos desenvolvidas. A nova era da construção de impérios começava com uma luta indigna por domínio territorial. O Reich alemão foi fundado em 1871, com a amálgama de estados até então separados. Outros estados se juntaram para formar o Império Austro-Húngaro. O Império Russo expandiu-se consideravelmente e, na década de 1890, o Império Britânico já ocupava nada menos que um quinto de toda a massa territorial do globo.
Aqueles eram os dias dos resolutos missionários cristãos, muitos dos quais enviados da Inglaterra da rainha Vitória. Com a estrutura religiosa gravemente ferida em casa, a Igreja procurava uma justificativa no exterior. Os missionários viviam particularmente ocupados na Índia e na África, onde as pessoas já tinham as próprias crenças e nunca tinham ouvido falar de Adão. Mais importante, porém, nunca tinham ouvido falar de Charles Darwin! Na Inglaterra, um novo estrato intermediário na sociedade emergira dos empregadores da Revolução Industrial. Essa próspera classe média deixou a verdadeira aristocracia e a classe governamental muito longe do alcance do povo, criando uma estrutura de classes, um sistema de divisões no qual todos tinham seu lugar designado. Os chefes e comandantes se refestelavam em empreendimentos arcádicos, enquanto os mercadores oportunistas competiam por espaço em meio ao consumo exacerbado. Os homens da classe trabalhadora aceitavam seu estado servil, com hinos de aliança, um sonho de Esperança e Glória, e um retrato de sua sacerdotisa tribal, Britannia, acima da lareira.
Os estudiosos da história sabiam que não tardaria até que os impérios começassem a olhar uns aos outros, e previam o dia em que os poderes concorrentes se digladiariam em feroz oposição. O conflito começou quando a França se empenhou em recuperar a Alsácia-Lorena da ocupação alemã, enquanto as duas guerreavam pelas reservas de ferro e carvão do território. A Rússia e o Império Austro-Húngaro se enfrentavam em luta pelo domínio dos Balcãs e havia disputas resultantes de ambições colonialistas na África e em outros lugares. O pavio foi aceso em Junho de 1914, quando um nacionalista sérvio assassinou o arquiduque Fernando, herdeiro do trono austríaco. Nesse ponto, a Europa explodiu numa grande guerra, fortemente instigada pela Alemanha. As hostilidades foram dirigidas contra a Sérvia, Rússia, França e Bélgica, e a contra-ofensiva era liderada pela Inglaterra. A luta durou mais de quatro anos, chegando ao fim com uma revolta na Alemanha, quando o imperador Guilherme II fugiu do país.
Diante de todos os avanços tecnológicos de uma era industrializada, a história tinha feito pouco progresso em termos sociais. As conquistas da engenharia levaram a uma habilidade marcial sem precedentes, enquanto o cristianismo se tornara tão fragmentado que já não mais se deixava reconhecer. O orgulho da Inglaterra permanecia intacto, mas o Reich alemão não se conformava em aceitar passivamente suas perdas. Seu despótico líder, Adolf Hitler, anexou a Áustria em 1937 e invadiu a Polónia dois anos depois. A segunda grande guerra, verdadeiramente uma Guerra Mundial, começava: a mais feroz disputa territorial até hoje. Durou seis anos e foi centrada nas crenças vitais da própria religião: os direitos de todos num ambiente civilizado».

In Laurence Gardner, A Linhagem do Santo Graal, A verdadeira história de Maria Madalena e Jesus Cristo, Madras Editora, 2004.

Cortesia de Madras/JDACT