sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Simbologia. Esoterismo em “Iniciação”. Fernando Pessoa. Gisele Cardoso Lemos. «A nudez é símbolo da pureza física, moral, intelectual e espiritual; é uma espécie de retorno ao estado primordial, é a abolição dos limites entre o homem e o mundo que o cerca…»

Cortesia de wikipedia

«(…) O corpo é a sombra das vestes que encobrem o teu ser profundo. As vestes são símbolo exterior da actividade espiritual, a forma visível do homem interior. Muitas ordens secretas têm as vestes como um dos utensílios ritualísticos, como é o caso da maçonaria. Fernando Pessoa escreveu em um documento que se encontra no seu espólio as palavras Throne Robe Sword, ou seja, trono, veste, espada: elementos rituais, simbólicos, de uma iniciação maçónica repleta de cabalismo e alquimia.
Vem a noite, que é símbolo da morte, aquela que toda noite engole o Sol para o gerar no dia seguinte. E a sombra acabou sem ser porque na noite a sombra não existe, ela só existe enquanto se tem luz, à noite ela morre. Seguido o percurso do iniciante, chega este à Estalagem do Assombro, o lugar onde ocorrerá o primeiro passo da iniciação. Nesse local sagrado os anjos tiram a sua capa e com esse gesto ele doa a si mesmo e, segue com o pouco que tapa seu corpo e sem capa no ombro. Então na estrada, aquela que leva ao lugar sagrado, os arcanjos deixam-no completamente nu, sem vestes, somente com o seu corpo que é ele.
A nudez é símbolo da pureza física, moral, intelectual e espiritual; é uma espécie de retorno ao estado primordial, é a abolição dos limites entre o homem e o mundo que o cerca, em função do qual energias naturais passam de um a outro sem barreiras, daí a nudez ritual dos guerreiros celtas no combate, de certas dançarinas sagradas e da linha jainísta que denomina-se vestir-se de céu. Por fim, ele chega à funda caverna, e são os Deuses que o despem; tiram seu corpo e externalizam sua alma tornando-o igual aos Deuses, são sutis e etéreos. O eu interior ficou entre os Deuses, não está morto entre os ciprestes porque para o neófito não há morte espiritual, a morte somente atinge o corpo, jamais a alma; há iniciação, o reinício de outra etapa da vida, geralmente mais elevada.
E todo esse processo ocorre à noite, mais um símbolo juntamente com o fim na caverna de que a iniciação ou morte simbólica é um retorno ao ventre da terra pois é no escuro que todo mistério é realizado, tudo é gerado e tudo é findado; é no ventre escuro que somos gerados e é no interior escuro da terra que somos enterrados. Interessante perceber que nesse poema há a presença do número 3 de três diferentes formas. Há 3 ambientes em que ocorre um passo no percurso iniciático: o primeiro é a Estalagem do Assombro, o segundo a Estrada e o terceiro a caverna. Há três potências postas em ordem crescente de poder espiritual: a primeira são os anjos, a segunda são os arcanjos e a terceira os Deuses.
E há três estágios da iniciação ou três mortes simbólicas que fazem um caminho partindo do exterior para o interior do ser humano: primeiro se retiram as vestes (o mais externo possível), depois o pouco que o tapa deixando-o nu, bem próximo da natureza e por último tira-se o corpo e permanece apenas a alma, a parte mais oculta e profunda do ser humano. O homem aqui é visto como o microcosmo que é um reflexo do macrocosmo, o universo. O que está em cima está em baixo. Todos os mistérios do universo estão guardados na alma do ser humano, então, para descobrir os mistérios do cosmo há que se descobrir os mistérios da alma. O poema Eros e Psyche de Fernando Pessoa traz uma citação dizendo que o Grau do Neófito compõe a Ordem Templária da qual ele fez parte, porém essa informação não invalida uma análise dos três graus através da perspectiva maçónica visto que a Ordo Templi Orientis possui carácter maçónico e iniciático.
Na maçonaria há três graus de iniciação; o primeiro grau representa o ser humano individual e o lugar que ocupa nos Mundos, é chamado de Aprendiz e possui três instrumentos para sua arte de ofício na loja; o segundo grau é chamado de Companheiro e possui a simbologia da escada, uma escada interior que o indivíduo deve subir quando conseguir retirar sua atenção do mundo físico para examinar a natureza da sua alma e as tarefas para o seu próprio progresso psicológico; possui outras três diferentes ferramentas de trabalho; o terceiro grau é o do Mestre Maçom e indica que o conceito habitual da vida humana é como a morte comparada com a capacidade do potencial humano. Muito interessante é que o quadro que simboliza o terceiro grau possui o desenho de um caixão encimado por uma caveira. Centeno tem uma teoria de que a iniciação para Fernando Pessoa é a escrita, por essa perspectiva o grau do Neófito seria a aquisição dos elementos culturais com que o poeta terá de lidar ao escrever, o grau de Adepto será o de escrever simples poesia lírica, o grau de Mestre será o de escrever poesia épica, poesia dramática, e a fusão de toda a poesia, lírica, épica e dramática, em algo de superior que as transcenda. Sua proposta é a sacralização da escrita ao designar cada grau correspondendo a um tipo de domínio da escrita. Como é visto em Magus, de Francis Barret, o número três é um número sagrado, o número da perfeição pois gealmente os antigos deuses são trifásicos. Os elementos corpóreos e as espirituais consistem em três partes, isto é, começo, meio e fim. O mundo completa-se pelo três, como disse Trismegistus: harmonia, necessidade e ordem; o ciclo do tempo se fecha em três: passado, presente e futuro. O triângulo é a primeira figura geométrica produzido por linhas rectas e este é um dos símbolos do divino, do sagrado. Ele representa as três esferas cósmicas: planos inferiores, plano material e planos superiores e, as três dimensões humanas: corpo, mente e espírito». .In Gisele Cardoso Lemos, Simbologia e Esoterismo em “Iniciação” de Fernando Pessoa, Wikipédia.

Cortesia de Wikipédia/JDACT