sábado, 16 de novembro de 2013

Olympia. Austral. «Que mal faz um beijo, se apenas o dou, desfaz-se-me o pejo, e o gosto ficou? Um deles por graça deu-me um, e, depois, gostei da chalaça, paguei-lhe com dois. Abraços, abraços, que mal nos farão? Vivendo e gozando, que a morte é fatal, e a rosa em murchando não vale um real suspenso no ar»

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«Aquelle Manuel do Rego
é rapaz de tanto tino
que em lirio põe sempre y grego,
e em lyra põe i latino!
E como a gente diz ceia
escreve sempre ceiar;
assim como de passeia
tira o verbo passeiar!
Nunca diz senão peior
não só por ser mais bonito,
mas porque achou num auctor
que deriva de sanskrito.
Escreve razão com s,
e escreve Brasil com z:
assim elle nos quizesse
dizer a razão porquê!
Também como diz - eu soube
julga que eu poude é correcto:
temo que a morte nos roube
rapazinho tão discreto!
É um gramático o Rego!
É um purista o finorio...
Se Camões fallava grego,
e o Vieira latinorio!»


«Como a cigarra o seu gosto
é levar a temporada
de Junho, Julho e Agosto
numa cantiga pegada,
de Inverno também se come,
e então rapa frio e fome!
Um Inverno a infeliz
chega-se à formiga e diz:
 - Venho pedir-lhe o favor
de me emprestar mantimento,
matar-me a necessidade;
que em chegando a novidade,
até faço um juramento,
pago-lhe seja o que for.
Mas pergunta-lhe a formiga:
pois que fez durante o Estio?
 - Eu, cantar ao desafio.
Ah cantar? Pois, minha amiga,
quem leva o Estio a cantar,
leva o Inverno a dançar!»


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