terça-feira, 6 de setembro de 2016

O Legado do Vento. CG Fleck. «O menino observou a figura elegante de Morgan surgir no corredor à direita da escada e o seguiu até a sala de jantar, onde a sua família costumava ter as suas refeições»

Cortesia de wikipedia e JDACT
Ano 188
«Rand saltou da cama assim que os primeiros raios de sol entraram no seu quarto. Ele correu para a sacada e abriu a janela efusivamente, para admirar a silenciosa batalha entre a luz e as trevas pelo controle do céu. Mais um dia nascia em Gorland e naquele dia Rand conquistaria o seu maior objectivo até então, no alto dos seus onze anos de existência. Com a mesma ansiedade que acordara, o menino se dirigiu até à casa de banho para limpar o seu rosto e fazer as suas necessidades matutinas. Depois ele trocou suas vestes e correu porta fora. Atravessou o corredor que ligava os quartos e desceu a bela escadaria de madeira que ficava no centro da Mansão Arns. Mas, quando ele pôs os pés no último degrau, Morgan, o principal criado da casa, falou com a sua voz que que parecia sair do seio da terra: jovem mestre, por favor, não corra tão cedo. A comida está posta, venha-se alimentar com calma antes de sair. Rand suspirou fundo e balançou a cabeça concordando, mas por dentro amaldiçoava o empregado que sempre parecia adivinhar seus pensamentos. O menino observou a figura elegante de Morgan surgir no corredor à direita da escada e o seguiu até a sala de jantar, onde a sua família costumava ter as suas refeições. Justo no dia que seu pai havia viajado, após uma incomum estada prolongada, Rand fora descoberto e agora perderia tempo comendo e conversando com sua mãe até finalmente poder sair para brincar.
Ao chegarem à sala, Rand observou a mesa que fora preparada para ele e sua mãe. A quantidade de comida posta não lhe pareceu anormal, afinal ele fora criado naquelas condições, mas uma pessoa de bom senso saberia que tamanha fartura poderia alimentar uma família inteira por alguns dias na maior parte das residências da cidade. Rand, seu rosto está vermelho e vejo que já está suando tão cedo. Espero que não estejas correndo pela casa novamente, disse a voz serena e carinhosa de sua mãe. Como de costume ela estava sentada no lado direito da cabeceira da mesa. Clare Arns fora mãe muito cedo e Rand era fruto da sua segunda gravidez. Devido a complicações no parto, ele seria filho único para o resto da sua vida. Talvez por isso ela tenha amadurecido tão cedo e se tornado uma mãe zelosa, que muitas vezes limita a inconstante audácia do filho. Enquanto se encaminhava para o seu lugar na mesa, Rand ouviu a mãe dizer: precisa ser mais calmo, descer as escadas correndo pode ser perigoso. Prometa-me que não vai mais fazer isso. Rand assentiu para não preocupá-la, mesmo sabendo que correria daquela mesma maneira assim que saísse de casa. Então o menino se serviu de um pedaço de bolo e um copo de leite. Com mordidas vorazes devorou o delicioso bolo branco em segundos. Rand, que pressa é essa? Engula direito a comida e não se esqueça de comer algumas frutas. Sua mãe estava contra a janela e a luz da manhã iluminava seus cabelos dourados. O menino captou o olhar dela e sorriu. Já Clare, por sua vez, devolveu o sorriso e se dirigiu a uma das criadas pedindo mais chá. Rand pegou a maçã que parecia ser a mais vermelha da safra e a mordiscou sem vontade. Vai sair com seus amigos?, indagou Clare voltando-se para o filho.
Sim, vamos brincar no parque, respondeu Rand, um pouco nervoso. E vão ficar por lá?, perguntou sua mãe com sagacidade. A astúcia dela o pegou desprevenido. Rand não gostava de mentir para sua mãe, por isso ele acabou balançando os ombros como resposta, como se o assunto não tivesse importância. Você lembra o que o seu pai disse antes de sair?, perguntou Clare. Ele não quer que você ande por aí com aqueles Nuond e os amigos deles. Rand suspirou. Seu pai vivia colocando limitações para com quem ele deveria brincar ou não. E fazer parte do grupo de Kevin Nuond era tudo o que Rand mais desejava. Kevin e seus amigos faziam o que lhes interessava sem dar explicações a ninguém. Não se limitavam as brincadeiras infantis que as outras crianças repetiam todos os dias no parque. Mãe, eu sei me cuidar e eu escutei o que o pai disse, mas naquele dia Roland Arns não estaria em casa para se preocupar com o que Rand iria fazer ou não.
Clare franziu a testa ao ouvir o comentário, mas não insistiu no assunto. Rand agradeceu por isso e terminou a sua refeição. Enquanto o menino se erguia para deixar a mesa, ela falou: tem a manhã toda para brincar lá fora, mas à tarde, Alam virá para acompanhar os seus estudos. Tente não se sujar muito, está bem? Rand bufou, ele detestava aquela rotina incessante de estudos que era submetido. Todos os dias durante as manhãs e as tardes ele estudava História, Matemática, tradição, línguas e treinava seu corpo para o uso da espada, do arco, ou para nadar e cavalgar. Era o único que tinha tamanha rigidez em suas tarefas, por sorte naquela manhã seu tutor tivera que resolver outros assuntos, com isso Rand poderia aproveitar a manhã, não apenas algumas horas. E Rand, lembre-se que na ausência do seu pai, o seu tio é o responsável pela nossa casa, disse Clare. Por isso não faça nada que eu precise da ajuda dele para resolver, não quero que ele tenha pretextos para vir aqui na ausência de Roland». In CG Fleck, Legado do Vento, Wikipédia.

Cortesia de Wikipedia/JDACT