segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Elvas na Idade Média. Fernando B. Correia. «Dippo, cidade ainda não localizada, talvez na área de Évora ou de Elvas ou algures entre Elvas e Évora?; a sua terminação em ippo parece levar à atribuição de uma origem túrdula a este topónimo; o mesmo autor, noutro trabalho, sugere que Dipo poderia corresponder à actual localidade de Évora-Monte

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Época romana
«(…) O castro ou oppidum de Segóvia parece ter feito parte do roteiro das lutas que se travaram entre atacantes e apoiantes de Sertório em 75 a. C.. Com as campanhas de Júlio César a região teria ficado controlada pelos romanos. O território no qual se insere Elvas fazia parte da Lusitânia. A província fora criada não se sabe bem se antes ou depois de escolhida Emerita para sua capital. Através da Epigrafia pode-se afirmar que a região de Elvas estava integrada no territorium de Augusta Emerita. Assim, durante a época romana, em termos administrativos, judiciais e de afinidades em termos gerais, a zona de Elvas relacionava-se preferencialmente com Emerita e, ao localizar-se num dos extremos de territorium de Emerita, virado para Oeste, deve ter sido um ponto de ligação com Ebora e com a linha do Tejo. Com a criação, no século I d. C., de um novo tipo de circunscrições administrativas, com funções essencialmente judiciais, os conventus, a zona de Elvas pode ter continuado estreitamente ligada à capital provincial. Na verdade, os autores fazem normalmente coincidir a linha divisória entre os conventus emeritense e pacense mais ou menos com a actual linha fronteiriça de Portugal e Espanha. contudo, o mapa elaborado por Jorge Alarcão para o seu trabalho Roman Portugal parece querer deixar claro que a zona de Elvas (bem como Ammaia, mais ao Norte) teria ficado integrada na área do conventus de Emerita e não no de Pax Julia (do qual dependia Ebora).
Outros autores que se debruçaram sobre a questão da pertença de Elvas a um dos conventus revelam algumas dúvidas. José d’Encarnação, tendo em conta a pertença das zonas de Elvas, Juromenha, Vila Boim e Veiros à tribo Papíria, bem como o facto de o marco miliário encontrado na Terrugem (Elvas) referir a distância reportando-se a Mérida, pergunta se, com base nesses elementos, não se poderá concluir da pertença desses territórios ao conventus emeritensis. Elvas; segundo Jorge Alarcão, deveria ter sido um vicus, um núcleo urbano de carácter secundário, importante (Alarcão afirma que vici importantes a su1 do Tejo, além de Tróia. seriam os de Nossa Senhora de Aires, Santana do Campo, Elvas. Alter do Chão; o mesmo autor esclarece àcerca do significado urbanístico e económico desta designação: vicus designava um núcleo urbano menos importante em termos jurídico-administrativos, que uma capital de civitas. Apesar disso, um vicus poderia ser mais extenso ou populoso, e mais activo, industrial ou comercialmente, que certas capitais; poderia ter obras públicas ou residências particulares mais ricas que as sedes de alguns municipia». Este autor justifica a importância de Elvas em época romana tendo em consideração os achados epigráficos de carácter funerário encontrados, o aparecimento de um fragmento de mosaico na área urbana, para além da grande quantidade de estações arqueológicas desta época referenciadas nos arredores do núcleo urbano.
No entanto, atendendo à topografia da zona, favorável à existência de um ponto fortificado, talvez não seja de excluir a hipótese de ter tido também instalações de tipo militar, o que a aproximaria de um oppidum, ou que, hipótese talvez também a considerar, que, de um oppidum inicial, a ocupação pudesse ter evoluído no sentido de se tornar numa estrutura de assentamento mais identificável com um vicus. Sendo um vicus ou um oppidum, o que não está ainda esclarecido é o nome que se aplicava, então, ao local em causa. Se Alarcão não lhe atribui nenhum nome, autores há que, a partir da toponímia referenciada nas fontes antigas, sobretudo as informações provenientes de itinerários, fazem coincidir (não sem interrogações) Elvas (ou a sua região) com Dippo (Dippo, cidade ainda não localizada, talvez na área de Évora ou de Elvas ou algures entre Elvas e Évora?; a sua terminação em ippo parece levar à atribuição de uma origem túrdula a este topónimo; o mesmo autor, noutro trabalho, sugere que Dipo poderia corresponder à actual localidade de Évora-Monte; as reticências não largam este topónimo, que alguns autores grafam com um e outros com dois pp, de que resulta Dipo e Dippo; José d’Encarnação é um dos cientistas que coloca, como hipótese, a identificação de Dippo com Elvas; recentemente autores há que, não retirando a Elvas a possibilidade de ter albergado a antiga Dippo, propõem a sua localização em Juromenha; segundo Luis Berrocal-Rangel, Dipo poder-se-ia localizar na zona definida pelo cabeço de Segóvia, a norte, e Juromenha, a sul, pela grande quantidade de necrópoles céltico-romanas aí detectadas e que se localizam maioritariamente no termo de Elvas; este autor não esconde as condições topogáficas óptimas oferecidas por Elvas para poder ter sido o local de assentamento de Dipo; porém, sem mais argumentos, o autor inclina-se para Jnromenha como local mais provável de coincidência com a antiga Dipo, Los Pueblos Célticos del Suroeste de la Península Ibérica, Madrid, Edicão Complutense, 1992)». In Fernando Branco Correia, Elvas na Idade Média, Edições Colibri, CIDEHUS, Universidade de Évora, 2013, ISBN 978-989-689-365-1.

Cortesia de EColibri/JDACT