terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Sociedades Secretas. Philip Gardiner. «Esses adereços incluem apertos de mão e palavras secretas, dias especiais do ano conhecidos apenas por poucos e percepções mais profundas sobre textos amplamente conhecidos»

Cortesia de wikipedia e jdact

«Iremos concentrar-nos, em especial, na origem das sociedades secretas e no que está por trás das crenças e rituais de muitas das religiões do mundo. No início, isso nos levará a assuntos que parecem não estar relacionados, tais como eletromagnetismo e fenómenos cíclicos, mas tudo ficará claro ao descobrirmos que esse mundo natural está relacionado, na sua totalidade, aos nossos sistemas de crença. Esses sistemas de crença são semelhantes em todo o mundo e constituem a base do aspecto esotérico das sociedades secretas. Contudo, precisamos entender a linguagem das sociedades secretas e o que é exactamente uma sociedade desse tipo. Esse é um assunto que gera debates acalorados e, está aberto a várias interpretações. Existem contos sobre sociedades secretas ao longo de toda a história. A primeira pergunta que devemos fazer é por que tiveram de permanecer secretas. De acordo com a crença popular, é porque os que se reuniam em segredo eram homens de renome ou prestígio que tramavam mudar a civilização, fosse por meio da destruição da Igreja ou da realeza, fosse defendendo-as. De acordo com essa crença popular, uma das sociedades secretas originais era chamada Irmandade da Cobra (ou dragão, ou serpente). Embora não existam registros históricos reais de uma antiga Irmandade da Cobra, mencionada pela primeira vez por madame Blavatsky, é facto que os rituais e crenças dessa suposta organização secreta são semelhantes a muitos que, de facto, existem e são relacionados, de forma estranha, à serpente. Isso não é surpresa para mim, é claro; sou considerado um dos assim chamados especialistas em ofiolatria (culto à serpente). Em Secrets of the Serpent, descobri que existiu uma religião serpentária antiga e mundial. Misturada com sistemas de crença solares, lunares e cósmicos, essa fé ancestral assumia, de facto, um aspecto mundial, utilizando-se da serpente em muitos níveis. Por fim, essas crenças transformaram-se, aos poucos, em cultos e sociedades secretas, ficando, assim, ocultas. Em quase todos os exemplos, essas sociedades secretas cumprem um papel religioso, entram em contacto com Deus ou com os deuses por meios que a religião oficial não pode ou não faz. Isso, por si só, nos fornece uma boa indicação. É facto, embora cruel, que a religião ou as crenças são formas excelentes de atrair membros e utilizar um estado elevado do indivíduo para seus próprios fins, sejam quais forem. E como na maioria das religiões, os membros de sociedades secretas são escolhidos, são membros da minoria. Um exemplo claro disso é o modo como os cristãos dizem, sem saber o significado real destas frases, que o caminho é estreito, ou que é mais fácil passar um camelo pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos Céus. Isto, por sua vez, faz com que o iniciado se sinta mais importante quando é aceite, ainda que muito poucos sejam recusados no estágio inicial. Esse método de escolha não é apenas o legado de sociedades secretas ou da religião, mas universal. Também é encontrado nos clubes e organizações normais quotidianos, nos quais ainda é preciso passar por testes claramente feitos para permitir o ingresso de todos, mas em diferentes níveis. Dessa forma, a ideia da existência de níveis diferentes move o processo e assegura que os recém-iniciados se esforcem para se tornarem discípulos ou membros integrais por meio do aprendizado das doutrinas do clube ou associação, e assim o iniciado fica enredado por completo no mundo da sociedade. As sociedades secretas levam essa participação um pouco mais longe ao incluir certos adereços no rol do conhecimento que o iniciado tem de aprender. Esses adereços incluem apertos de mão e palavras secretas, dias especiais do ano conhecidos apenas por poucos e percepções mais profundas sobre textos amplamente conhecidos. Tudo isso, e mais, faz com que o iniciado se sinta cada vez mais importante. Em todos os exemplos, a experiência última de iluminação parece ser reservada para os níveis mais altos de iniciação, enquanto nos graus menores são permitidos e usados apenas níveis mais baixos de iluminação. Existe também a construção de relações de companheirismo por meio de reuniões regulares. Isso permite ao membro sentir-se parte de uma família mais ampla e, assim, mais importante. Converse com qualquer integrante a serviço de um corpo militar e você descobrirá que um dos principais factores do sucesso de sua unidade é atribuído à camaradagem. Isso conduz o membro por um caminho de tamanha profundidade emocional dentro da sociedade secreta que deixá-la seria como perder um membro da família. A zona de conforto em que o iniciado se encontra é tal que ele não quer sair. A iniciação de uma organização é a parte mais importante. Ela envolve, em geral, um ritual moldado ao redor de um mito que parece ser impossível compreender». In Philip Gardiner, Sociedades Secretas, colecção Millenium, Publicações Europa América, 2008, ISBN 978-972-105-876-7.

Cortesia de PEAmérica/JDACT