domingo, 11 de junho de 2017

Esplendor de Honra Julie Garwood. «Que engano tão terrível tinha cometido o seu cativo ao deixar arrastar-se pela temeridade! Sim, Duncan, o poderoso barão dos feudos do Wexton, tinha entrado na fortaleza do seu inimigo»

Cortesia de wikipedia e jdact

Inglaterra. 1099
«Pretendiam matá-lo. O guerreiro estava de pé no centro do pátio deserto, com as mãos atadas à costas e sujeita por uma corda a um poste que tinha sido colocado no chão detrás das suas costas. A sua expressão achava-se desprovida de toda a emoção enquanto olhava para diante, sem fazer aparentemente caso dos seus inimigos. O cativo não tinha oferecido nenhuma classe de resistência, permitindo que os seus captores o despissem até a cintura sem nem sequer levantar um punho ou pronunciar uma palavra de protesto. A sua magnífica capa para o inverno, forrada de pele, a sua grossa cota, a sua camisa de algodão, as suas meias e as suas botas de couro tinham-lhe sido arrancadas e jogadas no chão gelado, diante dele. A intenção que guiava a seus inimigos não podia ser mais clara. O guerreiro morreria, mas sem que a sua morte chegasse a trazer consigo nenhuma nova marca para acrescentá-la ao seu corpo, já famoso pelas cicatrizes da batalha. Enquanto a sua ávida audiência olhava, o cativo podia dedicar-se a contemplar os seus objectos enquanto ia congelando pouco a pouco até morrer.
Doze homens rodeavam-no. Com as facas desembainhadas para dar-se valor, aqueles homens andavam em círculos ao redor do cativo, zombando dele e gritando insultos e obscenidades enquanto os seus pés calçados com botas chutavam o chão num esforço por manter algum calor na gélida temperatura. Mesmo assim, todos e cada um deles se mantinham a uma prudente distancia dele, se por acaso chegasse a dar o caso de que o seu no momento dócil cativo trocasse subitamente de parecer e decidisse liberar-se das suas ataduras e atacá-los. Não lhes cabia nenhuma dúvida de que era perfeitamente capaz de tal façanha, porque todos tinham escutado as histórias que se contavam da sua hercúlea fortaleza. Alguns inclusive tinham podido presenciar numa ou duas ocasiões as tremendas proezas que era capaz de levar acabo no curso da batalha. E se o cativo se libertasse das cordas que o sujeitavam ao poste, os homens ver-se-iam obrigados a utilizar as suas facas, mas não antes de que o guerreiro tivesse enviado a três, possivelmente inclusive a quatro deles, à morte, que mandava aquele grupo de doze homens não podia acreditar na sua boa fortuna. Tinham capturado o Lobo e não demorariam para presenciar a sua morte.
Que engano tão terrível tinha cometido o seu cativo ao deixar arrastar-se pela temeridade! Sim, Duncan, o poderoso barão dos feudos do Wexton, tinha entrado na fortaleza do seu inimigo cavalgando completamente só, e sem levar consigo nenhuma arma com a qual pudesse chegar a defender-se. Tinha cometido a insensatez de acreditar que Louddon, um barão que era igual a ele no título, faria honra à trégua temporária que havia entre eles. Tem que estar muito pago de sua própria reputação, pensou o homem que os mandava. Realmente deve ter-se por tão invencível como asseguravam que era aquelas histórias de grandes batalha que tanto tinham chegado a exagerar a sua figura. Sem dúvida essa era a razão de que o barão do Wexton parecesse sentir-se tão pouco preocupado pelas terríveis circunstâncias nas que se encontrava agora.
Uma vaga sensação de inquietação foi infiltrando-se pouco a pouco na mente de quem mandava naqueles homens enquanto contemplava a seu cativo. Tinham-no despojado de toda sua valia, fazendo em farrapos o emblema que proclamava o seu título e a sua dignidade, e assegurando-se de que não ficasse nem um só vestígio do nobre civilizado. O barão Louddon queria que o seu cativo morresse sem nenhuma dignidade ou honra. E entretanto, o guerreiro quase nu que tão orgulhosamente se elevava ante eles não estava respondendo no mais mínimo aos desejos do Louddon. O barão do Wexton não se estava comportando como teria podido esperar-se de um homem que vai morrer. Não, o cativo não suplicava pela sua vida ou choramingava pedindo um rápido final. Tampouco tinha o aspecto de um agonizante. Não lhe tinha colocado a carne de galinha e a sua pele não tinha empalidecido, mas sim seguia estando bronzeada pelo sol e curtida pela exposição à intempérie. Maldição, mas se nem sequer tremia! Sim, eles tinham despido o nobre, e entretanto debaixo de todas as capas de refinamento seguia achando-se presente o orgulhoso senhor da guerra, mostrando-se tão primitivo e carente de medo como arejavam todas aquelas histórias que corriam a respeito dele». In Julie Garwood, 1987, Esplendor de Honra, Editora Universo dos Livros, 2017, ISBN978-855-030-137-2.

Cortesia de EUdosLivros/JDACT