sábado, 16 de setembro de 2017

As prostitutas na História. Patrícia Pereira. «Muitas prostitutas eram cultas e instruídas, e cumpriam o papel de entreter os líderes daquela sociedade»

Cortesia de wikipedia e jdact

As primeiras prostitutas da história. Demóstenes
«(…) Prostituta com papel de destaque na história de Cristo, foi, inclusive, canonizada pela igreja católica, Maria Madalena poderia ter-se tornado um símbolo na luta pela aceitação da actividade. Mas o que ocorreu foi o contrário: como personificou o estereótipo de prostituta arrependida, acabou por disseminar uma imagem negativa sobre a prostituição, ao reforçar a ideia de que é preciso abandonar a actividade para redimir-se dos pecados e ser perdoada por Deus. Durante a Idade Média, as prostitutas actuantes eram excomungadas da igreja católica. Mas as que se arrependiam eram perdoadas e aceitas pela sociedade. Houve até um movimento de conversão, em que a igreja estimulou fiéis a recuperar prostitutas e casar-se com elas. Também surgiram comunidades monásticas de ex-prostitutas convertidas, que receberam o nome de Lares de Madalena. Elas proliferaram pela Europa, tendo sido financiadas, na sua maioria, pelo clero. Além de Maria Madalena, a igreja enalteceu diversas outras prostitutas que salvaram as suas almas pelo arrependimento, como Santa Pelágia, Santa Maria Egipcíaca, Santa Afra e outras. O curioso é que nenhuma passagem na Bíblia afirma que Maria Madalena foi prostituta. Os textos sagrados a mencionam como pecadora, de quem Jesus expulsou sete demónios, mas não especificam qual seria o seu passado. Provavelmente, o que a levou a ser vista como prostituta foi a identificação com um relato de Lucas sobre uma pecadora anónima, descrita de forma a sugerir ser uma prostituta, que em certa passagem unge os pés de Cristo. O relato de Lucas, a respeito de tal mulher arrependida, antecede a citação nominal de Maria Madalena. No Ocidente cristão, a versão de que Maria Madalena seria essa mulher foi a mais difundida. No Oriente, a mulher anónima e Maria Madalena são vistas como pessoas diferentes.
Foi também Sólon quem, percebendo os lucros obtidos pelas prostitutas, tanto as comerciais quanto as sagradas, organizou o negócio, criando bordéis oficiais, administrados pelo Estado. Neles, havia grande exploração das mulheres, que eram praticamente escravas. Junto com os bordéis oficiais, muitas meretrizes independentes exerciam o seu comércio, apesar da legislação de Sólon. Pela primeira vez na História, as mulheres estavam sendo catalogadas, oficialmente. (...) Assim, de mãos dadas, nasceram as estatais e privadas.
Maria Regina Cândido, lembra que foi a pressão sobre a terra, com o grande aumento da população grega, que levou Sólon a criar os primeiros bordéis. Isso porque ele trouxe para a região estrangeiros ceramistas, com o intuito de ensinar à população excedente uma nova actividade, já que a agricultura não absorvia mais a todos. Para que os estrangeiros não molestassem as esposas e filhas de cidadãos gregos, ele criou um espaço de prostituição oficial na periferia da cidade, os bordéis, explica a coordenadora. Segundo Maria Regina, as prostitutas ficavam em frente ao cemitério, na região do cerâmico, onde estavam instaladas as oficinas dos ceramistas, e também na região do Porto do Pireu, onde eram chamadas de pornes, daí vem a palavra pornografia.
As prostitutas dos bordéis eram estrangeiras, trazidas para a Grécia exclusivamente para cumprir esse papel. Mas muitas mulheres gregas, depois de casamentos desfeitos por suspeita de traição ou outros desvios de comportamento, não viam outro caminho a não ser prostituir-se. Essas, estigmatizadas, juntavam-se às estrangeiras nos bordéis oficiais. As prostitutas do templo de Afrodite deixaram de ser vistas como sacerdotisas e viraram escravas.
Muitas prostitutas eram cultas e instruídas, e cumpriam o papel de entreter os líderes daquela sociedade. Cobravam alto preço pela sua companhia e podiam ou não ceder aos desejos sexuais do cliente. São as hetairae, amantes e musas dos maiores poetas, artistas e estadistas gregos, explica Maria Regina. As hetairae conduziam os seus negócios abertamente em Atenas, trabalhando independentemente tanto dos bordéis do Estado quanto dos templos. A prostituição sagrada também sobreviveu, embora timidamente, durante o período da Grécia clássica. Havia templos em toda a Grécia, especialmente em Corinto, dedicado à deusa Afrodite. As prostitutas do templo não eram vistas como sacerdotisas, eram tecnicamente escravas. Mas, por serem consideradas criadas da deusa, mantinham a aura de sacralidade e eram homenageadas pelos clientes. Demóstenes pagava caro por essas prostitutas. Ele ia de Atenas até Corinto só para ter relações sexuais com elas, diz Maria Regina». In Patrícia Pereira, As prostitutas na História, Jacques Rossiaud, A Prostituição na Idade Média, 1991, Margareth Rago, Os Prazeres da Noite, 2008, Revista Leituras da História, wikipédia, 2009.

Cortesia de RLKdaHistória/JDACT