quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Poesia. Lord Byron. «Muitas vezes o riso é do hipócrita um meio, com que o ódio mascara ou o temor; antes quero um conciso ai de trémulo seio, que uma lágrima orvalha, qual flor»

Cortesia de wikipedia 

A Lágrima

«Se há em nós simpatia,
que nos mova amizade
ou amor, soe dizê-lo um olhar;
mas o olhar nos mentia!
Diz o riso a verdade?
Só uma lágrima a pode expressar.

II
Muitas vezes o riso
é do hipócrita um meio,
com que o ódio mascara ou o temor;
antes quero um conciso
ai de trémulo seio,
que uma lágrima orvalha, qual flor.

III
Bom sinal é ter n'alma
compaixão, caridade;
é o mais belo louvor dos mortais!
E alcançais essa palma,
só á viuvez, à orfandade,
à desgraça uma lágrima dais.

IV
O que aos mares se afoita,
se em montões vendo as vagas
sob alguma receia ficar,
ao tufão que o açoita
depõe n'asa mil pragas,
porém manda uma lágrima ao mar.

V
Corre ao campo o soldado,
Corre, a glória por norte,
sobre o imigo a colher um laurel;
mas o imigo prostrado
ei-lo abraça, e da morte
co'uma lágrima adoça-lhe o fel!

VI
E se a justa ufania
para ao pé de sua amada
tão romântico assim o conduz,
então bem se extasia
de colher na rosada
face a lágrima que alva aí reluz.

VII
Sítio em que eu vivi moço!
Da amizade e franqueza
mansão doce, mansão d'áureo amor!
Sabes d'alma o alvoroço
quando disse-te, presa
a uma lágrima, o adeus de sua dor?

VIII
Bem que agora um só voto
não mais vá de meu peito
ao daquela a quem já tanto amei,
sempre lembro-me e noto
que os que outrora lhe hei feito
co'uma lágrima dela os c'roei.

IX
De outro embora, ditosa
viva a ingrata Maria;
sei-lhe ainda a lembrança adorar:
bem que foi-me enganosa,
sei chorá-la; e em vão ria,
co’uma lágrima a sei perdoar.

X
Meus amigos queridos,
dentre vós me apartando,
uma esp’rança me anima, e me diz:
sereis inda reunidos!
Vosso adeus é chorando?
Dai a lágrima ao encontro feliz!

XI
Quando houver meu esp’ríto
voado às plagas da noite,
e o meu corpo na cova jazer,
oh! Ter-me-ei por bendito
sê no pó, que o Euro açoite,
quem derrame uma lágrima houver.

XII
Não me erijam moimento
pela mão da vaidade!
Não carece o meu nome asas tais
para ao teu firmamento
voar, Celebridade!
Uma lágrima eleva-me assaz».

In Lord Byron, in poema ‘A lágrima’
Tradução de Fontenelle

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