domingo, 18 de março de 2018

A Cidade Perdida. James Rollins. «Outros guardas vinham em auxílio. E se não fosse um intruso? E se fosse simplesmente o passar de faróis? Ele já se encontrava numa situação difícil com Fleming»

Cortesia de wikipedia e jdact

The British Museum. Londres. 14 de Novembro
«(…) A voz do homem respondeu à chamada, mas cortes engoliram a maior parte das palavras, interferência da trovoada. ... possível... Tens a certeza?... Espera até... Os portões estão fechados? Harry voltou a fixar os portões de segurança descidos. É claro que deveria ter verificado se tinham sido selados. Cada galeria tinha apenas uma entrada para o salão central. O outro acesso às salas seladas era através de uma das janelas altas, mas estas estavam protegidas contra quebra ou intrusão. E embora a trovoada tivesse deitado abaixo a energia central, os geradores de reserva mantinham o quadro de segurança activado. Nenhum alarme tinha soado no comando central. Harry imaginou Johnson já a ligar as câmaras, percorrendo a ala, aproximando-se rapidamente da Galeria Kensington. Arriscou um breve olhar à sequência de cinco salas. O brilho persistia no fundo da galeria. A sua passagem parecia errante, casual, não o perscrutar determinado de um ladrão. Verificou rapidamente o portão de segurança. O fecho eletrónico emitia uma luz verde. Não fora violado. Voltou a fixar o brilho azulado. Talvez fosse simplesmente a passagem dos faróis de um carro através das janelas da galeria.
A voz de Johnson pelo rádio, aos cortes, assustou. Não tenho nada nas câmaras... A câmara cinco está desligada. Fica onde estás... Outros a caminho. As palavras restantes se volatizaram pela descarga eléctrica da tempestade. Harry manteve-se junto ao portão. Outros guardas vinham em auxílio. E se não fosse um intruso? E se fosse simplesmente o passar de faróis? Ele já se encontrava numa situação difícil com Fleming. Só faltava pôr-se a ridículo. Arriscou e ergueu a lanterna. Está alguém?, gritou. Quis soar autoritário, mas resultou mais como um queixume agudo. Contudo, não se verificou alteração no padrão errante da luz. Parecia dirigir-se mais para o fundo da galeria, não numa retirada assustada, simplesmente num sinuoso andamento lento. Nenhum ladrão poderia ter tanto sangue-frio nas veias. Harry atravessou até o fecho eletrónico do portão e usou a chave-mestra para o abrir. Os selos magnéticos soltaram-se. Empurrou o portão para cima o suficiente para rastejar por baixo e entrou na primeira sala. Endireitando-se, ergueu de novo a lanterna. Recusou deixar-se dominar pelo pânico momentâneo. Devia ter investigado mais antes de fazer soar o alarme. Mas o mal estava feito. O melhor que podia fazer era salvar um pouco a cara, esclarecendo ele próprio o mistério. Gritou de novo, em todo o caso. Segurança! Não se mexa!
O grito não teve efeito. O clarão prosseguiu a sua marcha resoluta, embora errante, para o fundo da galeria. Olhou para trás para o portão de acesso à sala principal. Os outros estariam ali em menos de um minuto. Que se lixe, resmungou em voz baixa. Apressou-se para o interior da galeria, perseguindo a luz, determinado a eliminar a sua causa antes que os outros chegassem. Quase sem um olhar, passou por tesouros de importância intemporal e valor inestimável: armários de vidro exibindo placas de argila do rei assírio Assurbanipal; pesadas estátuas de arenito datando de tempos pré-pérsicos; espadas e armas de todas as eras; marfins fenícios retratando antigos reis e rainhas; até mesmo uma primeira impressão das Mil e Uma Noites, sob o seu título original, The Oriental Moralist. Harry continuou a avançar pelas salas, passando de dinastia em dinastia, dos tempos das Cruzadas ao nascimento de Cristo, das glórias de Alexandre Magno aos tempos do Rei Salomão e da Rainha de Sabá». In James Rollins, A Cidade Perdida, Bertrand Editora, 2015, ISBN 978-972-252-930-3.

Cortesia de BEditora/JDACT