quarta-feira, 21 de março de 2018

Poesia. Miguel Torga. «És a carne dos deuses, o sorriso das pedras, e a candura do instinto»

Cortesia de wikipedia e jdact

À beleza
«Não tens corpo, nem pátria, nem família,
Não te curves ao jugo dos riranos.
Não tens preço na terra dos humanos,
Nem o tempo te rói.
És a essência dos anos,
O que vem e o que foi.

És a carne dos deuses,
O sorriso das pedras,
E a candura do instinto.
És aquele alimento
De quem, farto de pão, anda faminto.

És a graça da vida em toda a parte,
Ou em arte,
Ou em simples verdade.
És o cravo vermelho,
Ou a moça no espelho,
Que depois de te ver se persuade.

És um verso perfeito
Que traz consigo a força do que diz.
És o jeito
Que tem, antes de mestre, o aprendiz.

És a beleza, enfim. És o teu nome.
Um milagre, uma luz, uma harmonia,
Uma linha sem traço…»

Poema de Miguel Torga, in “Beleza

Cortesia de PortaldaLiteratura/JDACT